02/12/12

Eu tive uma fazenda em África...






Eu tive uma fazenda em África.
         Maneira estranha e absurda esta, de começar uma história. Porque esta frase, além de ser um plágio, é também uma mentira. Nunca tive uma fazenda, muito menos em África, onde nunca estive.
         Os meus pais também nunca a tiveram mas, como agricultores que eram, trabalharam em várias, nessa arte que eu hoje desconheço totalmente por me ter tornado um homem citadino. Nos finais dos anos 50 rumaram à cidade, como muitos outros e em várias épocas, em busca de uma vida mais digna, mais rica e menos preocupante. Não sei se a encontraram. O que sei, é que sinto agora a falta de conhecimentos que teria tido naturalmente se eles não tivessem tomado essa decisão. Hoje, não sei como se chamam as árvores que ladeiam as ruas do meu bairro. Nem o nome das plantas que ornamentam aquilo a que chamam zonas verdes. Não sei, ponto por ponto, como se faz o vinho que bebo nem o azeite com que tempero. Sei, isso sim, as marcas preferidas dos produtos que compro no hiper-mercado. Leio nos rótulos aquilo que os fabricantes dizem que contém – quantos conservantes, que corantes e até quando posso usá-los – compro fruta de toda a qualidade em todos os meses do ano e legumes frescos sem saber que a sua época já passou…

In "O Canto do Cisne" de João J. A. Madeira



1 comentário:

  1. Maravilhoso, como tão bem o João sabe escrever. Parabéns para o João J. A. Madeira, que o escreveu e para ti, que tão bem lhe deste destaque.

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