Eu
tive uma fazenda em África.
Maneira
estranha e absurda esta, de começar uma história. Porque esta frase, além de
ser um plágio, é também uma mentira. Nunca tive uma fazenda, muito menos em
África, onde nunca estive.
Os
meus pais também nunca a tiveram mas, como agricultores que eram, trabalharam
em várias, nessa arte que eu hoje desconheço totalmente por me ter tornado um
homem citadino. Nos finais dos anos 50 rumaram à cidade, como muitos outros e
em várias épocas, em busca de uma vida mais digna, mais rica e menos
preocupante. Não sei se a encontraram. O que sei, é que sinto agora a falta de
conhecimentos que teria tido naturalmente se eles não tivessem tomado essa
decisão. Hoje, não sei como se chamam as árvores que ladeiam as ruas do meu
bairro. Nem o nome das plantas que ornamentam aquilo a que chamam zonas verdes.
Não sei, ponto por ponto, como se faz o vinho que bebo nem o azeite com que
tempero. Sei, isso sim, as marcas preferidas dos produtos que compro no
hiper-mercado. Leio nos rótulos aquilo que os fabricantes dizem que contém – quantos
conservantes, que corantes e até quando posso usá-los – compro fruta de toda a
qualidade em todos os meses do ano e legumes frescos sem saber que a sua época
já passou…
In "O Canto do Cisne" de João J. A. Madeira
Maravilhoso, como tão bem o João sabe escrever. Parabéns para o João J. A. Madeira, que o escreveu e para ti, que tão bem lhe deste destaque.
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